Ver e ouvir o Papa "de pertinho": confira curiosidades da Audiência Geral
- 02/07/2025
Devido às férias de verão do Papa, Audiências Gerais estão suspensas até o fim do mês; padre comenta história e curiosidades do encontro semanal do Pontífice com fiéis
Gabriel Fontana
Da Redação

Chegada do Papa na Audiência Geral de 11 de junho de 2025 / Foto: REUTERS/ Remo Casilli
Se você acessa o noticias.cancaonova.com regularmente, deve estar acostumado a encontrar, toda quarta-feira, uma publicação sobre a Catequese do Papa. Neste dia 2 de julho, porém, foi diferente: teve início a pausa de verão do Santo Padre, e as Audiências Gerais só retornarão no dia 30. Enquanto isso, que tal saber um pouco mais sobre este momento de encontro entre o Vigário de Cristo e o Povo de Deus?
As Audiências Gerais ou Catequeses, como são conhecidas no Brasil, são encontros semanais do Papa com os fiéis presentes em Roma. Nestes eventos, que ocorrem nas manhãs de quarta-feira, o Pontífice apresenta uma reflexão temática, saúda os grupos de peregrinos em suas respectivas línguas oficiais e recebe pessoalmente algumas personalidades presentes.
Segundo padre Eraldo Leão, membro do clero da Arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e doutor em Teologia, o objetivo das audiências é fomentar encontros pastorais entre o Papa e os fiéis, proporcionando ocasiões frequentes de interação. Para além da oportunidade de ouvir e acolher o que o Papa tem a dizer, é grande a expectativa em ver o Papa “de pertinho” quando ele faz o tradicional giro de papamóvel pela Praça São Pedro.
Audiências Gerais ao longo da história

Padre Eraldo Leão / Foto: Arquivo pessoal
Não se tem muita precisão sobre a origem das Audiências Gerais, a data em que começaram. Porém, padre Eraldo explica que elas foram se tornando mais frequentes no final do século XIX, uma constância que aumentou ainda mais com o Papa Pio XII (1939 – 1958), “até assumirem o atual formato semanal temático no pontificado de Paulo VI (1963-1978)”.
Inicialmente, as Audiências Gerais se realizavam no Palácio Apostólico ou no pátio de São Dâmaso, destinando-se a um grupo bem mais restrito de fiéis. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da tecnologia, as audiências puderam ser realizadas em locais mais amplos, como a Basílica Vaticana, a Praça São Pedro e, mais recentemente, a Sala Paulo VI, abrangendo assim um maior número de participantes.
Outra mudança citada pelo padre Eraldo é a forma como o Papa passeia em meio aos fiéis nessas ocasiões. “Até o pontificado de João Paulo I (1978), os papas passeavam em meio aos fiéis numa ‘sédia gestatória’, uma espécie de ‘trono-andor’ no qual o Papa era transportado sendo carregado nos ombros de funcionários da Santa Sé”, explica.
Contudo, para facilitar a interação física com os fiéis, o Papa João Paulo II (1978-2005) preferiu utilizar um veículo motorizado aberto para os passeios de trajeto mais amplo, que ficou desde então conhecido por papamóvel. Os passeios mais curtos, porém, o Papa passou a fazê-los a pé.
Como são as Audiências Gerais
O doutor em Teologia conta ainda que, uma vez que as Audiências Gerais não são celebrações litúrgicas e nem mesmo para-litúrgicas, o Papa não se paramenta para elas e nem segue um rito codificado pelo Ritual Romano.
Habitualmente, o roteiro começa com a entrada do Papa – que é acompanhada por um passeio motorizado pela Praça São Pedro quando a audiência acontece nela. Chegando à sédia pontifícia, o Santo Padre inicia formalmente o encontro com o sinal-da-cruz e uma saudação litúrgica. Em seguida, lê-se um trecho bíblico em vários idiomas, leitura esta que serve de base para a reflexão do Pontífice. O Papa pronuncia a sua reflexão e, quando termina, um resumo da catequese é lido, também em várias línguas. É neste momento que o Pontífice saúda os grupos de peregrinos conforme seus idiomas e faz apelos ocasionais em favor de causas urgentes como a paz mundial.
O encontro é concluído com o cântico do Pai-Nosso e a benção papal em latim, após a qual o Papa recebe os cumprimentos de personalidades presentes na ocasião. Padre Eraldo observa que o resumo da catequese em várias línguas – atualmente nove idiomas (italiano, francês, inglês, alemão, espanhol, português, árabe, polonês e chinês) – expressa o desejo de ressaltar a universalidade da solicitude pastoral do Pontífice Romano.

Papa Francisco acolhe menino durante Audiência Geral na Sala Paulo VI em 20 de outubro de 2021; depois, o garoto pediu ao Pontífice seu solidéu (e teve seu pedido atendido) / Foto: REUTERS/Remo Casilli
Ele cita ainda que a grande marca das Audiências Gerais é a expressiva interação espontânea do Santo Padre com os fiéis. “O Papa pode trocar sorrisos com os que se alegram por estar na presença do Vigário de Cristo na Terra, assim como tocar e abençoar os que diante dele se apresentam com lágrimas em suas tribulações e a ele acorrem por enxergarem-no como Pastor Universal do rebanho do Senhor”, reflete o sacerdote.
Momentos marcantes nas Audiências Gerais
Entre alguns momentos marcantes, padre Eraldo recorda o atentado ao Papa João Paulo II ocorrido na Audiência Geral de 13 de maio de 1981. Segundo o doutor em Teologia, o caso abalou o mundo inteiro e despertou a necessidade de maiores cuidados com a segurança do Santo Padre e de todos os presentes em encontros com grande número de fiéis como esse.
O sacerdote também lembra um episódio um tanto “cômico”: na Audiência Geral de 22 de dezembro de 2005, o Papa Bento XVI usou, para se proteger do frio, um camauro pontifício – um gorro vermelho com bordas de arminho que, embora não tenha sido abolido do hábito pontifício, caiu em desuso.
“Pelo seu formato, o camauro se assemelha ao tradicional gorro do Papai Noel, o que tornou cômico o seu uso por Bento XVI naquela ocasião por ter sido na quarta-feira que antecedia o Natal”, explica padre Eraldo.

Papa Bento XVI com seu camauro pontifício na Audiência Geral de 22 de dezembro de 2005 / Foto: REUTERS/Alessia Pierdomenico
Um casal brasileiro na primeira Catequese de Leão XIV
Recentemente, o casal de advogados de Santos (SP), Juliana e Fábio Gomes, também participaram de uma Audiência Geral marcante: a primeira do Papa Leão XIV.
Com o casamento marcado para 17 de maio, os dois planejaram passar a lua de mel na Itália com visita ao Vaticano. Ao pesquisarem no site da Prefeitura da Casa Pontifícia, por onde é possível inscrever-se gratuitamente para participar das Audiências Gerais, eles escolheram o dia 21 de maio para ir ao encontro do Papa na Praça São Pedro.

Juliana e Fábio Gomes / Foto: Arquivo pessoal
Além disso, o casal viu que existe a possibilidade de recém-casados receberem uma bênção especial do Santo Padre, o que aumentou ainda mais as expectativas pelo encontro. Porém, em meio aos preparativos necessários, como arrumar um vestido branco (como de noiva) para a Juliana e um terno para o Fábio, uma notícia os pegou de surpresa: a morte do Papa Francisco.
Com o falecimento do Santo Padre e a Sé vacante, o encontro com o Pontífice se tornou incerto. “A gente não sabia o que ia acontecer, se iria haver um novo Papa eleito a tempo da nossa viagem, até porque não poderíamos remarcá-la e só seríamos recém-casados naquele momento”, expressa Fábio.
O casal relata que foram dias de muita apreensão, que se tornou expectativa com o início do Conclave e, posteriormente, a eleição de Leão XIV no dia 8 de maio. “Uma semana antes da nossa viagem já havia um novo Papa, mas não havia certeza se haveria a Audiência Geral. Até que, na semana anterior à viagem, o Vaticano divulgou o calendário confirmando a audiência para aquela quarta-feira que a gente tinha um ingresso”, conta o advogado.
Recomendações para participar da Audiência Geral
Juliana e Fábio compareceram ao Vaticano no dia anterior à Audiência Geral para retirar seus ingressos. No dia 21 de maio, enfim, aconteceu o grande encontro.
O casal explica, porém, que o ingresso não é para acessar a área dos recém-casados. “Lá na hora é feita uma triagem, digamos assim. Então esse ingresso que nós pegamos é um ingresso para acessar a Praça de São Pedro, ingresso igual para todos, é gratuito”, explicam.

Juliana e Fábio Gomes se encontraram com o Papa Leão XIV e receberam sua bênção / Foto: Serviço Fotográfico do Vaticano
Após acessarem a Praça São Pedro, Juliana e Fábio se dirigiram a outro local específico, onde a Guarda Suíça fica responsável pelo controle. “Para adentrar a área dos recém-casados, nós precisamos mostrar a certidão emitida pela igreja em que nós casamos”, partilha a advogada, que frisa a necessidade de comparecer de vestido branco enquanto o homem precisa estar trajado com terno e gravata.
Fábio recomenda também chegar bem cedo, por volta das 7h, porque a fila para entrar na Praça São Pedro é bem grande. “Quando a gente vê pela televisão a gente não tem ideia do tamanho da Praça de São Pedro e aquele local fica extremamente lotado. São filas de duas horas, duas horas e meia, então esteja preparado”, observa.
O advogado afirma ainda que, para participar da Audiência Geral, as palavras-chave são programação e preparo. Além disso, sugere usar roupas confortáveis e levar água, alimentos leves e sombrinha para se proteger do sol.
“Garantimos que todo esforço vale a pena. A energia que você sente naquele momento, seja participando enquanto recém-casado ali mais próximo ao Papa, seja participando no público em geral, toma conta da Praça de São Pedro e é realmente muito especial”, conclui Fábio.
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